sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

A turma do Beco do Barato - Biografia

A turma do Beco do Barato - Biografia


Músicos responsáveis pela realização do primeiro disco independente da cena fonográfica brasileira voltam para o estúdio, 30 anos depois, e gravam preciosidades que, caso contrário, se perderiam na memória.

A turma do Beco do Barato está de volta. Almir, Lailson, Marco Polo, Lula Cortês, Dicinho e Ivinho reuniram-se para gravar de novo, trinta anos depois de terem desencadeado um movimento musical underground no Recife, ao qual a imprensa da época prestou pouca atenção. Quem assina a produção é outro veterano do Beco do Barato, Zé da Flauta, em cujo estúdio, Plug, as músicas foram gravadas.

O Beco do Barato, um bar localizado na Boa Vista, que nos anos 70 foi palco de memoráveis apresentações desta turma não existe mais. Alguns dos músicos também. Uns poucos entraram no barato e encontraram um beco sem saída. Outros não fazem mais música.

A razão da volta destes remanescentes dos 70 não foi uma crise aguda de nostalgia. O projeto, intitulado Antologia 70 (o disco deve chamar-se O Grande Reencontro, ou A Turma do Beco do Barato), foi idéia de um fã do Ave Sangria, o engenheiro Humberto Felipe (ele chegou participar de um Ave Sangria cover). O produtor cultural Flávio Domingues encampou o projeto e, através da Lei de Incentivo, conseguiu o patrocínio. Dinheiro garantido, foi só fazer a convocação.

"Era para ter mais gente. Queríamos trazer Tiago Araripe, que liderou um grupo chamado Nuvem 33, mas não conseguimos. Tentamos Flaviola, também não deu. Então fizemos com os músicos que moram aqui no Recife mesmo", conta Zé da Flauta. Procurou-se gravar canções da época, mas se evitou ao máximo as regravações pura e simples. "Marco Polo, por exemplo, gravou músicas que o Ave Sangria só apresentou em shows. Exceção foi uma versão bem diferente de O Pirata", adianta o produtor.

Entre as canções cantadas por Marco Polo, está O Marginal, uma de suas composições mais fortes, inexplicavelmente ausente do único álbum lançado pelo Ave Sangria. Também resgatadas, literalmente, foram Vacas Roxas e Anjos de Bronze, composições do trio Phetus. O grupo, formado por Lailson, Zé da Flauta e Paulo Rafael, terminou em 1973, sem deixar nada gravado. "Pintaram um edifício de 25 andares/ Onde pastavam minhas vacas roxas" são os versos iniciais de Vacas roxas, classificado por Lailson como um "rock psicodélico country". Já Anjos de Bronze é no estilo néo-gótico que fez a fama do Phetus em sua breve carreira (seus shows começavam sempre à meia-noite).

Almir, baixista do Ave Sangria, comenta irônico que depois de 53 anos de vida, finalmente irá escutar a própria voz em um disco. Ele gravou duas composições suas incluídas no LP do Ave Sangria: Dois navegantes e Fora da paisagem. "Quando a banda ainda era Tamarineira Village, eu, João Luís, Marco Polo, todo mundo cantava. Depois, Ivinho despediu João Luís, o baixista. Então eu peguei o baixo. O problema é que não tenho jeito de cantar e tocar baixo ao mesmo tempo. A tendência natural foi Marco Polo, que cantava muito bem, ficar como vocalista do Ave Sangria", explica. Nas sessões no estúdio Plug, o baixo foi manejado por Dicinho, que tocou no Tamarineira Village quando o grupo começou, em 1972. Depois, ele foi da banda de Alceu Valença e tocou com Jackson do Pandeiro.

O irrequieto Lula Cortês foi a exceção à regra. Preferiu gravar duas músicas que estão em discos seus: As estradas (do CD gravado há cinco anos com o Má Cia.) e Dos Inimigos (do álbum O Gosto Novo da Vida, de 1980).

Marco Polo fez comparações destas sessões com as que o Ave Sangria realizou em 1974. "Quando a gente gravou a primeira vez, foi um parto difícil, ninguém entendia nada de estúdio, nem o produtor, um cara da Jovem Guarda, Márcio Antonucci, dos Vips. Agora não, todos estão tocando melhor, com mais experiência de estúdio". Ele optou por arranjos simples, como teria feito se houvesse gravado estas canções na sua antiga banda. E aí o guitarrista Ivinho foi fundamental. Com problemas de saúdes há muitos anos, Ivinho não toca profissionalmente desde meados dos anos 80, mas o talento continua quase o mesmo. "Ele arrasou", sintetiza Zé da Flauta, impressionado com a memória musical de Ivinho: "Ele foi brilhante", enfatiza.

Os músicos concordaram em lançar O Grande Reencontro depois do Carnaval, em um show, com local ainda a ser definido. Daqui a dois meses, portanto, as novas gerações vão conhecer a música da turma do Beco do Barato e fazer, segundo a metáfora de Lailson, "uma viagem pela avenida da memória". (Texto: Udigrudi Recife).

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