sábado, 19 de abril de 2014

Fagner - EU CANTO - 1978

Fagner - EU CANTO - 1978


1- Revelação (Clodo/Clésio)
2- Jura Secreta (Sueli Costa/Abel Silva)
3- Acalanto Para Um Punhal (R. Recife/H. Torres/F. Nilo)
4- Punhal de Prata (Alceu Valença)
5- As Rosas Não Falam (Cartola)
6- Motivo (Raimundo Fagner/Cecília Meireles) *
7- Pelo Vinho e Pelo Pão (Zé Ramalho)
8- Cigano (Raimundo Fagner)
9- Quem Viver Chorará (Raimundo Fagner)
10- Quem Me Levará Sou Eu (Dominguinhos/Manduka)

O ano de 1978 começou sob o signo de Raimundo Fagner. O ‘‘Jornal de Música’’, do início de janeiro divulgara os resultados da escolha dos Melhores do Ano de 1977, reunindo indicados e destacando todos aqueles que se sobressaíram. Foi um ano excepcional, principalmente para os nordestinos. Raimundo Fagner se destacou em quatro categorias: Vocal Solo, Violão, Compositor e Show (Ao Vivo).
     Os nordestinos se destacaram com Zé Ramalho da Paraíba (Revelação de Compositor e Revelação Vocal Solo), Geraldo Azevedo (Melhor Violão), Robertinho de Recife (Revelação Instrumental Solo e Guitarra), Amelinha e Terezinha de Jesus (Revelação Vocal), dentre outros.
     O disco ‘‘ORÓS’’ continuava desaguando. O resultado insatisfatório das vendas não abalou a confiança de Raimundo Fagner. Ao contrário, sua expectativa maior era conquistar a América e iniciar as gravações de um disco nos Estados Unidos. Raimundo Fagner chegou aos Estados Unidos em fevereiro de 1978 e ficou convivendo com músicos brasileiros radicados lá há muito tempo como Airto Moreira, Laudir de Oliveira, Flora Purim e Naná Vasconcelos. Ficou algum tempo na casa do Laudir em Los Angeles e depois foi para Nova Iorque, onde ficou hospedado da casa do Naná Vasconcelos. De lá foi para Paris onde o Teatro Campagne Premiere o aguardava para algumas apresentações. O retorno ao Brasil somente aconteceu em julho de 1978. Antes, porém, ele participou dos shows da Anistia Internacional, na cidade de Colônia, na Alemanha, contra os 14 anos da ditadura brasileira (‘‘BRASILIEN 14 JAHRE DIKTATUR’’). Com apenas um violão na mão, Raimundo Fagner mostrou que não existem barreiras suficientes para conter a força de seu canto agreste, e atacou de Pobre Bichinho, As Rosas Não Falam, Gota D'Água, Vaila, Acalanto Para Um Punhal, Santa Tereza, Riacho do Navio, Epigrama No.9, ABC, Astro Vagabundo, e as instrumentais Algodão e Quem Viver Chorará.
     E de volta ao País, depois de meses ausente dos palcos cariocas, a grande expectativa do público e da crítica, era em relação ao início da temporada de Raimundo Fagner no Teatro Tereza Rachel, em setembro de 1978, com o show de lançamento do disco ‘‘QUEM VIVER CHORARÁ’’, o quinto de sua confusa e ascendente carreira.
     Acompanhado por um time da pesada formado por Robertinho de Recife, Manassés, Dominguinhos, Ozias,Tuti Moreno e Chico Batera, Raimundo Fagner mostrou no show todas as músicas do novo disco e ainda acrescentou as clássicas Astro Vagabundo, Sangue e Pudins, Riacho do Navio, a inédita Angururu e recriou Légua Tirana (acompanhado de Dominguinhos na sanfona).
     Com direção artística de Jairo Pires e produção do próprio Raimundo Fagner, com ‘‘QUEM VIVER CHORARÁ’’ (CBS, 1978, No. 230.020) veio o primeiro Disco de Ouro de sua carreira, por mais de 170 mil exemplares vendidos. Um salto espantoso para quem começou com apenas 5 mil exemplares do ‘‘MANERA FRU FRU, MANERA’’, pulou para mais de 40 mil com o ‘‘RAIMUNDO FAGNER’’ e caiu para 15 Mil com o ‘‘ORÓS’’.
     O disco ‘‘QUEM VIVER CHORARÁ’’, também chamado de ‘‘EU CANTO’’, inteiramente dedicado aos pais, Seu Fares e Dona Francisca (‘‘com todo amor que tenho, e terei’’), abre o lado ‘‘A’’ com Revelação (Clodo e Clésio), Jura Secreta (Sueli Costa e Abel Silva), Acalanto Para Um Punhal (Robertinho de Recife, Herman Torres e Fausto Nilo), Punhal de Prata (Alceu Valença). No lado ‘‘B’’, a clássica As Rosas Não Falam (Cartola), Motivo (mais um poema de Cecília Meireles musicado por Fagner), Pelo Vinho e Pelo Pão (Zé Ramalho), Cigano (Fagner) e Quem Viver Chorará (Fagner).
     Como subtítulo do elepê, daí o nome de ‘‘EU CANTO’’, os versos de Cecília Meireles demonstravam bem o estado em que Raimundo Fagner se encontrava naquele momento: ‘‘Eu Canto, porque o instante existe e a minha vida está completa’’.
     No disco (acústico, na definição do autor) Raimundo Fagner não só participou de todos os processos de gravação, como também em todas as faixas como músico (violão ovation, piano acústico, órgão Leslie, guitarra flamenca e percussão) e ainda na elaboração dos arranjos, na regência e na direção musical, além de ajudar no corte, ao lado dos técnicos Manoel, Ivair e Américo.
     No lado instrumental uma seleção de craques foi escolhida para acompanhá-lo em mais uma transição: Manassés (viola, cavaquinho e viola de 10 cordas), Ife (baixo elétrico e violão), Chico Batera (bateria e percussão), Alceu Reis (violoncelo), Nelson Macedo (viola), Robertinho de Recife (guitarra elétrica e guitarra portuguesa), Alzik Meilach(violino), José Alves (violino), Dino (violão de 7 cordas), Ozias (baixo acústico), Armandinho (bandolim elétrico), Amelinha (vocalise) e as participações especiais do guitarrista flamengo Pedro Soler e do cantor e compositor Alceu Valença (em Punhal de Prata).
     Várias faixas do elepê ‘‘QUEM VIVER CHORARÁ’’ foram registradas anteriormente por outros intérpretes e mereceram a atenção redobrada de Raimundo Fagner. Transformou Jura Secreta, que era apenas mais uma canção gravada por Simone no disco ‘‘FACE A FACE’’ (ODEON, 1977, No. 064.824360), em algo mais feroz e rasgante, em uma pequena gema da música brasileira. Aliás, parece que certas canções foram pensadas e elaboradas para que Raimundo Fagner pudesse interpretá-las, e fica até impossível de imaginá-las depois com um outro artista. Raimundo Fagner imprime sua marca registrada na canção de tal modo que não causa prejuízos para a primeira versão. Vide As Rosas Não Falam, um samba-canção de Cartola, onde Raimundo Fagner mostrou que é possível conciliar o cavaquinho dos botequins de subúrbio com o violino e o violoncelo dos grandes recitais. E o resultado é uma interpretação que toca fundo, um casamento perfeito entre as cordas e a voz de Raimundo Fagner. Um resultado, com certeza, sem prejuízos para o original de Cartola.
     Às vezes o intérprete transforma uma canção que, de uma certa forma passou despercebida do público em uma grande prova de talento e interpretação. É uma releitura particular que favorece ao intérprete. Quem poderia imaginar que os acordes e os versos de Acalanto Para Um Punhal, registrada no disco de estréia de Robertinho de Recife, ‘‘JARDIM DA INFÂNCIA’’, em 1977, se transformasse numa das mais vibrantes releituras já realizadas por Raimundo Fagner? Embora o próprio Robertinho, um dos autores da música, estivesse presente na gravação da faixa, Raimundo Fagner teve autonomia conseguindo mudar totalmente o pique da canção transformando-a praticamente em uma canção flamenca (principalmente pela presença do guitarrista Pedro Soler). Existe inclusive uma variação na letra cantada por Raimundo Fagner. No disco do Robertinho ele diz ‘‘Clarão violão/ Mesmo sol de Sevilha’’e na gravação do ‘‘QUEM VIVER CHORARÁ’’ ele canta ‘‘Clarão, violão/Mesmo sol de Granada’’.
     Em novembro de 1979 Raimundo Fagner voltou a ser notícia, desta vez por alguns bons motivos. Primeiro: ele foi escolhido pela revista ‘‘Billboard - En Español’’, como ‘‘a grande expressão da música brasileira’’. Segundo: foi o grande vencedor do Festival 79 - É Hora de Cantar - da Rede Tupi de Televisão interpretando Quem Me Levará Sou Eu, de Dominguinhos e Manduka. A música recebeu o prêmio de 1 milhão de cruzeiros, até então, o maior valor pago em festivais do gênero. O segundo lugar ficou com Canalha, de Walter Franco, interpretada pelo autor; e o terceiro para Oswaldo Montenegro com Bandolins. O prêmio de melhor arranjo foi para Arrigo Barnabé e o de melhor intérprete para Neusa Pinheiro (pela música Sabor de Veneno). O prêmio de melhor letra ficou com Tô Querendo, Tá, de Bubuska Valença. Foram distribuídas ainda duas menções honrosas: Maria Fumaça, dos gaúchos Kleiton e Kledir Ramil e Tempo de Colheita, dos goianos Genésio Sampaio e Juraíldes da Cruz.
     A vitória de Raimundo Fagner no Festival da Tupi rendeu uma nova tiragem do elepê ‘‘QUEM VIVER CHORARÁ’’ (CBS, 1979, No. 230.034). No relançamento há a ausência de Motivo (Fagner/Cecília Meireles) e a inclusão de Quem Me Levará Sou Eu

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